A Minha Relação Com a Comida

16 Fevereiro, 2021

Sempre achei necessário falar deste assunto…mas por medos e inseguranças continuei a guardar para mim. Pensei que talvez não fosse o meu lugar falar sobre isto. Mas este é um espaço de partilha, e de segurança. Hoje perdi o medo, esqueci as inseguranças e decidi que era importante falar.

Cada vez mais sinto necessidade de expressar a minha opinião, neste caso, sentia a necessidade de partilhar mais um pouco de mim.

Trabalho com comida, com gastronomia. A comida é o principal foco do meu trabalho e, foi isso que me levou a esta partilha. Quero sempre passar-vos uma mensagem positiva, uma luz interior que felizmente consegui alcançar, mas nem sempre foi assim.

Desde pequena que absorvo informação com facilidade. A primeira vez que me senti muito insegura com o meu corpo foi quando mudei de escola no sétimo ano. Lembro-me de um colega me ter chamado gorda e pela primeira vez olhei para o espelho de uma forma diferente…comecei a julgar a minha imagem por causa da opinião dos outros. Eu tinha 13 anos…comecei a duvidar de mim quando era apenas uma criança. Ninguém me acolheu bem nessa turma, era constantemente julgada pelo meu corpo, pela minha doença, por simplesmente existir. Às vezes até tinha medo de respirar. Havia dias que só queria acordar doente para não ter de estar naquele lugar, com aquelas pessoas.

Enchi-me de inseguranças. De medos, de paredes altas que se formaram à minha volta, onde não queria que ninguém tocasse ou entrasse, com receio de me estilhaçar em pequenos pedaços. Olhava-me ao espelho e na minha mente repetiam-se as palavras duras que me diziam ‘és gorda’, ‘és feia’, ‘és doente’, ‘não serves para nada’. Não me apercebi na altura, mas estava a entrar numa depressão grave que me levou a ter uma relação muito cruel comigo e com o meu corpo. Mas claro que não me apercebi, na verdade tinha apenas 13 anos.

Durante anos não contei a ninguém. Nem aos meus pais. Tinha vergonha. Fiz dietas, comia muito e depois sentia-me culpada. Comia muito pouco e ficava muito fraca. Eram altos e baixos, ou comia demasiado ou saltava refeições por completo. Achava que era isso que tinha de fazer para ficar magra. Só assim é que ia ser feliz, não é?

Na nossa sociedade, existe e sempre existiu uma ‘Diet culture’. Que nada mais é do que um ideal de beleza, imposto por empresas capitalistas que querem vender os seus produtos a mulheres desesperadas por alcançar algo que não existe.

Passou o tempo, cresci e continuei a ter uma relação ingrata comigo e com a comida. A comida era minha inimiga e o meu refúgio ao mesmo tempo. Tanto comia para me sentir feliz como não comia para não me sentir gorda. Um ciclo que achei que não teria fim. Porque para mim, todas as mulheres se sentiam assim. Via isso em tudo, na televisão, nas revistas, nas minhas amigas, nas mulheres da minha família. Mas o pior de tudo é que onde mais via era em mim. A comida assombrava-me sabem?

Em 2019 mudei a minha alimentação. Li muito, também fiz terapia, o que me ajudou a lidar com a violência psicológica que sofri no sétimo ano. Mudei o meu pensamento. Comecei a olhar para a comida como a minha fonte de energia, e para o meu corpo como um templo, a minha principal casa. Saí do abismo.

Aí tudo mudou, já não me sentia culpada, aprendi muito sobre gastronomia, comecei realmente a interessar-me pelo mundo vegetal e abri portas para viver em harmonia comigo e com o que eu como.

Hoje, sinto-me muito feliz. Nunca me senti tão bem comigo própria como agora. Criei uma relação muito saudável com a comida e para mim comer intuitivamente foi o que me fez mudar o pensamento. Acredito que não funcione para todos, mas este é apenas o meu testemunho.

Comer Intuitivamente

Comer o que me apetece comer. Reeduquei o meu paladar quando mudei de alimentação. Há coisas que deixei totalmente de comer pois sentia que não me traziam benefícios nenhuns. Optei pela comida real, da terra. Como saudável sim, mas como o que gosto e o que me apetece. Comer intuitivamente é ouvir o nosso corpo, sentir quais são as suas necessidades. Se há um dia que me apetece comer batatas fritas eu como, e como muito feliz, sem culpas. Mas não as como todos os dias. Criei rotinas saudáveis, como ler, meditar, exercitar o meu corpo e comer de forma saudável. Descobri também que a minha alimentação me ajudou imenso a lidar com o meu problema crónico (conto-te a minha história num post do blog).

 Uma das rotinas mais importantes para mim é o ho’oponopono. Já falei diversas vezes convosco sobre este tipo de meditação, que nada mais é do que afirmações que dizemos a nós próprios para criarmos uma relação de plenitude com a nossa mente e o nosso corpo.

Em vez de me olhar ao espelho e de me julgar, passei a amar-me e a respeitar-me. Comecei a dizer ‘tu consegues, tu és capaz’ todos os dias, e mudei o meu pensamento, mudei a minha vida.

Espero que este post te possa ajudar de alguma forma. Nem que seja a refletir sobre ti. A vida é feita de altos e baixos, mas tu tens a luz e a força para te elevares e seres feliz!

Até à próxima.